Oralidade escrita: histórias e costumes dos povos Qom, Wichí e Pilagá reunidos em livro

“A avó que virou tamanduá porque não deu ouvidos à advertência que fizeram para que não olhasse para o fogo. A mulher que não deixavam sair da cabana e que uma noite se apaixonou por uma cobra. O homem que se transformou em leão e comeu todos que viviam na sua colônia. O caçador que saiu para buscar alimento em um dia de chuva e encontrou Pelhay, o Espírito dos Céus e senhor dos raios.”

Estas são algumas das histórias recompiladas no livro do projeto “Oralidade escrita”, um dos selecionados no Edital IberCultura Viva de Intercâmbio da Organização dos Estados Iberoamericanos, edição 2015. O projeto em parceria com a Fundación Abriendo Surcos (Argentina) e o Ministério de Educação da Província de Formosa promoveu um concurso literário de lendas dos povos originários na província de Formosa, na Argentina. Foram recebidos mais de 70 relatos de três etnias: Qom, Wichí e Pilagá.

Os textos ganhadores do concurso – e que estão reunidos na publicação – foram produzidos por estudantes secundaristas de escolas públicas de modalidade intercultural bilíngue. A entrega dos prêmios se deu no Dia Internacional das Populações Indígenas, em 9 de agosto de 2016, na escola EIB N°6 Cacique Kanetori, em Bartolomé de las Casas (Formosa).

As línguas

Com 96 páginas, o livro do projeto reúne histórias e costumes dos povos Qom, Wichí e Pilagá contadas em suas línguas originárias, com traduções para o espanhol e o português. Os relatos estão divididos por povos/línguas.

Juliana Kase, responsável pela montagem, utilizou como referência para a capa o Mapa Interativo de Línguas em Perigo da Unesco, o site do Programa Sorosoro e do Instituto Socioambiental/Pueblos Indígenas. Os desenhos são de Gabriel Palma e Gero Ruiz.

Os textos

Como explica o professor Raúl Adrián Aranda, coordenador da equipe de Educação Intercultural Bilíngue da província de Formosa, os textos que compõem o livro se referem em alguns casos a um trabalho de criação autônoma ou coletiva, a registros de oralidade de pesquisas culturais, ou mesmo à recuperação de textos anteriores existentes na comunidade.

“Em todos os casos tratam-se de trabalhos escolares produzidos com a intenção manifesta de dar valor aos escritos em línguas originárias e aos conhecimentos e saberes culturais da comunidade. A difusão e publicação destes textos contribui para a continuidade dessa tarefa pedagógica didática para a comunidade em seu conjunto”, ressalta o professor.

A jornalista Daniela Landin e Jairo Araldi, coordenadores editoriais e idealizadores do projeto, contam que não queriam limitações referentes ao gênero literário. “Determinamos que é um livro de tradições orais, crendo que as classificações são modos impostos por pesquisadores e as definições entre conto, lenda, anedota, relato mitológico, poema, discurso de sabedoria, entre outros, não são um fator importante para a valorização de uma cultura”, justificam na edição. Esta seria uma maneira, segundo eles,  de legitimar o lugar da “conversa” dos jovens nativos que produziram o livro.

A leitura

No dia 16 de junho, às 18h30, houve uma leitura de relatos no Centro Cultural Brasil-Argentina (Avenida Belgrano, 552), em Buenos Aires.  Os relatos em espanhol forma lidos por crianças e adolescentes bolivianos ou descendentes de bolivianos que realizam um programa na rádio “Aires del Sur”, dentro das atividades da Fundación Comunitaria Cruz del Sur, em Liniers, Buenos Aires. As versões em português ficaram por conta da psicóloga brasileira Lana Caetano Vaz, que há um ano vive na Argentina.

Para acessar a publicação acesse o site do Ibercultura aqui